O amor é sempre coletivo
Helena Queiroz
Não é surpresa para nenhum de nós a alta do individualismo. A ideia de priorizar a si mesmo antes do outro e de cultivar o amor próprio para então amar o próximo, parece criar a ilusão de que podemos nos distanciar do mundo ao nosso redor para nos munirmos das ferramentas necessárias para sermos pessoas suficientemente boas. A meritocracia propagou-se massivamente, impulsionando frases clichês de superação e empoderamento pessoal, simplificando não apenas o ato de amar, mas também o de se amar.
Porém, se fosse tão simples como fizeram parecer, as questões de autoestima e narcisismo não teriam um impacto tão determinante em nossas relações e nem seriam pautas tão presentes no divã.
Uma escritora norte-americana, em sua teoria (2021), elevou a palavra amor à condição de conceito, definindo-a para além de um simples sentimento. Ela situou o "amor coletivo, político e ética de vida" no cerne da sociedade. Se assim fosse, o amor-próprio seria percebido sob uma nova perspectiva. Vejamos:
A insegurança surge em relação a algum ideal, a uma construção inatingível baseada nas expectativas alheias. Esses ideais de aparência, produtividade e aceitação moldam nossa autoimagem desde a infância, influenciados pelas figuras cuidadoras e suas expectativas para nosso futuro.
Pensando assim, "o amor-próprio não pode florescer em isolamento"; precisamos estar inseridos em ambientes que promovam respeito, confiança, comunicação e responsabilidade. Ambientes que sejam terreno fértil para acolher nossos erros, processos de aprendizado e transformação.
Amar a nós mesmos não é uma escolha individual.
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Tudo sobre o amor: novas perspectivas - bell hooks, 2021.








