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Por Helena Queiroz 29 abr., 2024
Não é surpresa para nenhum de nós a alta do individualismo. A ideia de priorizar a si mesmo antes do outro e de cultivar o amor próprio para então amar o próximo, parece criar a ilusão de que podemos nos distanciar do mundo ao nosso redor para nos munirmos das ferramentas necessárias para sermos pessoas suficientemente boas. A meritocracia propagou-se massivamente, impulsionando frases clichês de superação e empoderamento pessoal, simplificando não apenas o ato de amar, mas também o de se amar. Porém, se fosse tão simples como fizeram parecer, as questões de autoestima e narcisismo não teriam um impacto tão determinante em nossas relações e nem seriam pautas tão presentes no divã. Uma escritora norte-americana, em sua teoria (2021), elevou a palavra amor à condição de conceito, definindo-a para além de um simples sentimento. Ela situou o "amor coletivo, político e ética de vida" no cerne da sociedade. Se assim fosse, o amor-próprio seria percebido sob uma nova perspectiva. Vejamos:  A insegurança surge em relação a algum ideal, a uma construção inatingível baseada nas expectativas alheias. Esses ideais de aparência, produtividade e aceitação moldam nossa autoimagem desde a infância, influenciados pelas figuras cuidadoras e suas expectativas para nosso futuro. Pensando assim, "o amor-próprio não pode florescer em isolamento"; precisamos estar inseridos em ambientes que promovam respeito, confiança, comunicação e responsabilidade. Ambientes que sejam terreno fértil para acolher nossos erros, processos de aprendizado e transformação. Amar a nós mesmos não é uma escolha individual. — Tudo sobre o amor: novas perspectivas - bell hooks, 2021.
Por Helena Queiroz 28 mar., 2024
“Quando o luto pedir silêncio, aceite o convite.” ¹
Por Helena Queiroz 09 ago., 2023
A mãe dessa criança certamente está sobrecarregada, equilibrando diversos pratinhos em algum lugar enquanto assegura que as crianças estejam bem cuidadas e alimentadas. Por outro lado, o pai não está em milhares de certidões de nascimento e também não está presente em muitos lares- quando está, nem sempre exerce o papel de cuidador para os filhos. Quando pensamos num homem enquanto "pai ausente", sobre o que estamos falando? O que significa ser pai? Qual é o papel de um pai? Será um privilégio não suportar o peso emocional de ter um filho e simplesmente ir embora? É possível ser pai e mãe ao mesmo tempo? Existe realmente a figura do pai ausente? Alguém pode não ter pai? Bem, mesmo que eu quisesse, não poderia responder a todas essas perguntas. No entanto, um fato é claro: pela sua ausência, a figura paterna se tornou presente em toda essa reflexão e no psicológico de muitas pessoas. Para as pessoas que desconhecem a figura do pai, falar sobre os efeitos dessa falta é primordial. Por outro lado, parece razoável afirmar que os debates sobre parentalidade precisam incluir mais a perspectiva masculina. Para que as mulheres possam dividir responsabilidades e, consequentemente, vivenciar uma parentalidade mais leve, é essencial que os homens possam curar suas próprias feridas e, finalmente, assumir o papel paterno.
Por Helena Queiroz 08 ago., 2023
A psicologia perinatal, embora possa parecer uma novidade, já vem sendo estudada há muitos anos. Como sabemos, escolher o nome de um bebê é um processo que envolve uma sinergia entre o mágico e o desafiador. Um nome carrega consigo um significado profundo. E aqui, não é diferente: há quem a chame de psicologia da maternidade, psicologia da gestação, parto e puerpério, pré-natal psicológico, psicologia obstétrica... Apesar da falta de consenso na escolha do termo, quero informar que sou pós-graduanda em Perinatalidade, Parentalidade e Psicanálise e estou pronta para auxiliá-los em qualquer fase que vocês estejam em relação aos seus filhos. No nascimento, é comum que a atenção esteja voltada para o bebê, seus cuidados e necessidades. No entanto, para que as mudanças da rotina sejam bem integradas, é fundamental que os cuidadores da criança estejam bem. Aqui, o foco não está na criança, mas nos adultos envolvidos. Como uma especialidade que se aprofunda com seriedade e base teórica em tudo que envolve um nascimento, a psicologia perinatal abrange todo o núcleo familiar, abordando novas dores e aquelas que não puderam ser curadas com o tempo. Afinal, antes de assumir a parentalidade, todos são, em primeiro lugar, filhos. Além de acolher as mulheres que decidiram, junto com seus parceiros, o momento de engravidar, a psicologia perinatal também oferece apoio às tentantes, às arrependidas, às que passaram pela perda de um bebê em gestação ou recém-nascido, às que enfrentaram a frieza da UTI Neonatal, às que têm filhos com deficiência, ou são deficientes elas próprias, às mulheres com gestações não planejadas, múltiplas, por FIV ou outros métodos que não sejam naturais, àquelas que engravidaram na adolescência ou depois dos trinta e tantos anos, às que optaram por passar por essa experiência sem a presença de um segundo responsável legal, às famílias homoafetivas, negras, interraciais, adotivas, às que dependem e às que não dependem do Sistema Único de Saúde, às parentalidades transexuais, aos pais, avós, irmãos, tios... Esses são apenas alguns exemplos das muitas realidades contempladas por essa especialidade. Seja qual for a sua forma de vivenciar a parentalidade, você merece receber suporte de um profissional atualizado cientificamente e bem versado nas questões que envolvem a concepção, o parto e a criação de um ser humano que será inserido em um ambiente já repleto de particularidades. Entendo que não seja uma jornada fácil, mas encontrar uma comunidade atenta e disposta a te apoiar já é um grande passo em direção ao seu bem-estar e ao da sua família.
Por Helena Queiroz 08 ago., 2023
Cansada das "cinco formas milagrosas que vão resolver a sua vida da noite para o dia" e cética em relação à terapia, vista como apenas mais uma tarefa a ser cumprida, descubro a Psicanálise. Ela emerge como uma resposta desafiadora aos discursos normativos. Carregando o peso e a velocidade da contemporaneidade em meus ombros, as sessões de análise rompem com a noção de produtividade, convidando-me a uma jornada profunda que resulta em uma simbiose entre alívio e angústia. A proposta é desatar nós e, gradualmente, acessar aspectos simultaneamente estranhos e familiares. O inconsciente, frequentemente temido no senso comum, é o objeto (nada concreto) de estudo da Psicanálise. É como se fosse o quarto da bagunça, onde você nem lembra mais o que está guardado ali: os acumulados, o que deixamos para lidar em outro momento ou o que não conseguimos encarar todos os dias e acabamos por esconder lá. No entanto, ao contrário de um porão escuro, o nosso inconsciente é ativo e, portanto, age constantemente, influenciando nossa rotina e a maneira como percebemos o mundo. Afinal, apesar de não nos lembrarmos exatamente, nós reconhecemos tudo o que está lá. O conteúdo do inconsciente é o aspecto mais primitivo de nós, que, em grande parte, afetaria a ordem social se fosse exposto na superfície de quem somos. Ele impactaria nosso desempenho, nossa forma de nos relacionarmos e como nos comportamos diante das situações. O método psicanalítico é uma ferramenta segura que conduz ao acesso a esse conteúdo íntimo que todos temos debaixo de algum tapete da vida. A proposta é que você fale livremente, com autonomia sobre o seu próprio processo analítico, e se abra para si mesmo. Explorar seus desejos e medos é um ato político!
Por Helena Queiroz 08 ago., 2023
A decisão de escrever aqui surgiu como um transbordar da minha experiência clínica. Durante toda a minha trajetória no consultório, observei a presença de sintomas como sobrecarga, ansiedade, depressão, estresse, cansaço mental e irritabilidade. Compartilho isso para que você se sinta menos sozinho ou menos incompreendido. Este blog tem a intenção de informar e incentivar você a compartilhar a sua versão, a singularidade que existe por trás de emoções tão amplamente compartilhadas. Eu sei que pode ser assustador: sentar-se à frente de um desconhecido e revelar suas maiores vulnerabilidades pode parecer uma ideia absurda. No entanto, é uma oportunidade extremamente valiosa para reconhecer seus medos para si mesmo e, com isso, passar a enxergar o mundo através de uma nova perspectiva.
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